O NASCIMENTO DO ZENDÔ SURF
Convidada por amigos, quase numa brincadeira, a Monja Isshin foi "surfar" pela primeira vez aos 59 anos de idade. Uns meses depois, sem qualquer pretensão, escreveu um artigo para o seu
blog, recontando a experiência e as suas reflexões. Alguns surfistas leram o artigo da Monja e convidaram ela para visitar Wavetoon. Assim, renasceu uma afinidade muita antiga – o Zen e o Surfe. Para investigar, compreender e cultivar esta afinidade, iniciamos o projeto "Zendô Surfe".

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Palestra sobre Zen e Surf

A Monja zen budista Isshin Havens vai falar aos surfistas gaúchos e simpatizantes, sobre a profunda ligação do Zen com a arte do surf e inicia-los aos primeiros passos na prática do zazen, a meditação praticada nos mosteiros e centros budistas. O encontro será no Yázigi Menino Deus, às 19h30min do dia 21 de janeiro de 2009.

A Monja teve alguns contatos com o surf nos anos de 2006 e 2007, e nestas ocasiões percebeu que os surfistas, ou qualquer pessoa que conseguir deslizar numa onda, imediatamente atinge um estado mental chamado de “samadhi” entre os budistas. Esta alteração de consciência é semelhante a que alcançam meditadores com a prática Zen.

O objetivo do encontro é mostrar aos surfistas, que já conhecem este estado de consciência, como eles podem através da prática do zazen e do surf, entrar em “samadhi” não só durante as práticas, mas em todos os momentos das suas vidas.

A entrada é franca e as vagas são limitadas.
Inscrições pelo número (51) 3013.1908

O Que: Palestra sobre Zen e Surf

Onde: No Yázigi Menino Deus
Rua Botafogo 713 (quase esquina Av. Getúlio Vargas) Menino Deus, Porto Alegre, RS.

Quando: dia 21 de janeiro às 19h30min

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Como passar o resto da vida entubando.

por Gerry Lopez

...Meditar e surfar tem muitas semelhanças nas técnicas, assim como nos resultados. Os sentidos são como tiranos, bombardeando descontroladamente sua mente com novidades até ela parecer um mar revolto. O objetivo da meditação é o de acalmar as ondas de sua mente e controlar seus pensamentos, de forma que você possa aumentar seu poder de concentração. Surfar é uma maneira de focalizar a atenção num nível onde a mente se torna silenciosa e quieta. Durante aqueles momentos de intensa concentração, todas as preocupações ou problemas são esquecidos temporariamente, e somos preenchidos de satisfação e paz de espírito. Esse é exatamente o mesmo resultado que se espera obter pela meditação. A diferença entre concentração e meditação é apenas uma questão de grau. Sua mente está geralmente voltada para pensamentos vagos. Durante a concentração ela ainda se desvia, mas na meditação a mente está por conta própria, mantém-se em uma única frequencia de pensamento. Desenvolver a habilidade de parar as ondas fluidas do pensamento permite-nos um vislumbre do nosso verdadeiro Ser, o real que está sempre feliz, satisfeito e consegue bastante ondas. Os Yogis chamam isso de autoconscientização e nos dizem que está ao alcance de qualquer um que seja efetivamente interessado e dedicado. No Raja Yoga, a sexta e sétima etapa para a iluminação é a concentração e a meditação. A oitava é chamada de Samadhi ou superconscientização, isto é um estado além do tempo e espaço, quando a mente e o corpo são transcendidos e existe total união. Nesse estado, o meditante e o objeto de concentração se tornam uma única coisa. Shaun Tomson certa vez disse em uma entrevista, durante seus dias de glória em Off-the-wall e Backdoor Pipeline, que havia momentos quando ele efetivamente sentia-se como se estivesse controlando a onda.
A princípio pensei que fosse a mais egocêntrica das declarações jamais feitas por um surfista. Num segundo momento contudo, acreditei que Shaun entrou nesse estado de samadhi ou de superconscientização e estava em total harmonia com a onda, que sabia o que iria acontecer antes do tempo real. Depois, de volta a praia, ele podia apenas usar o seu ego para explicar os momentos de total não-ego. É o ego que gera a sensação de separação ou dualidade entre o ser individual e o Absoluto. A realidade é imutável e estática, o mundo que vemos é apenas ilusão porque olhamos para ele sem estarmos iluminados. Portanto, nós apenas vemos o que queremos e não o que realmente está lá para ser visto. Mas, voltando a terra, aqui precisa-se acreditar que estamos nas - ou perto das - sexta e sétima etapas do Raja Yoga, sempre que vamos surfar. Ás vezes, até entramos em Samadhi, mesmo que apenas por breves instantes. Se um dia puxadode surf revelar-se mais cansativo do que qualquer um de nós quisesse ou pudesse imaginar, então por quê nos sentimos tão satisfeitos e gratificados depois? De onde vem a energia para continuar a remar de volta para mais uma onda, após uma longa sessão? Por quê você nunca sente como se já houvesse feito tudo o que podia fazer surfando, independentemente do nível da suahabilidade? Não ficamos com a impressão de que sempre há mais espaço para melhorar? Por quê todas as lições que aprendemos nas ondas, funcionam tão bem - senão melhor - quando estamos fora d'água? Chamo a isso de Realização do Surf e é melhor você acreditar que este é o caminho para uma vida mais longa e melhor. Continue a remar que o resto é fácil...


Gerry Lopez
segmento de texto extraído da matéria "Como continuar entubando pelo resto da vida". Revista Alma Surf número 05/ano 1.


da esquerda para a direita: Gerry Lopez, Dick Brewer e Reno Abelira, praticando zazen em algum lugar do North Shore.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Jardim Zen

Tenho estado a pensar como descrever por palavras a sensação que nos preenche quando apanhamos uma onda e surfamos. Confesso que tenho tido muita dificuldade em encontrar as palavras certas. Não encontro sinónimos, não consigo inventar metáforas, nenhuma frase me parece verdadeira, correcta, aproximada à emoção de surfar. Estará o surf, realmente, para lá das palavras? Se sim, então é mais uma razão para este Blog ser uma estupidez. Parem as máquinas, fechem os browsers, vamos mas é todos clikar para outro lado que daqui não sai mais nada a não ser espuma, ondas, que é bom, estão é na água, no mar, no mar oceano... Mas, se calhar, sou só eu que não tenho engenho e arte para escrever o que não tem descrição.
No meio da reflexão lembrei-me de uma coisa. Talvez a explicação para ser tão difícil descrever as emoções associadas ao surf esteja no facto de o acto de surfar ser um acto desprovido de pensamentos, estar numa onda é estar ausente de pensamentos, ausente de reflexões, mesmo ausente de tempo. Nesses poucos segundos em que fazemos uma onda a nossa mente está como que em pause, a única preocupação é aproveitar a onda até esta chegar ao fim, mais nada. Só o corpo sente a onda, ou então é uma parte do cérebro a que não temos acesso quando estamos conscientes, algum neurónio lá no fundo do hemisfério direito, inacessível à razão.
E o resto do surf é a arte contemplativa por excelência, é a última técnica de meditação Zen, o despojamento absoluto. Sentado na prancha à espera da próxima onda ao ritmo do balanço da ondulação só eu, o mar e o céu depois do horizonte. Surfar é não pensar em nada, é contemplar e sentir em absoluto. E o melhor jardim Zen do universo são as estrelas e o mar.

por Pedro Arruda no blog ONDAS

Sobre Zen e o Surfe

Qualquer um que tenha passado algum tempo no oceano, numa prancha de surfe, em busca da melhor onda, já tem uma compreensão básica do princípio do Zen. Na sua aplicação ao Surfe, o estado Zen culmina no próprio ato de deslizar sobre a onda, onde todos os elementos da natureza e os sentidos humanos se fundem numa transformação espontânea da “não-consciência", vivenciada como um momento absoluto além do tempo. O Surfe faz ecoar os ritmos da Natureza: sempre presente, continuamente reacontecendo, nenhuma fração de segundo igual ao outro.

Extraído do livro livro “Zen of Surfing” de Jack Reilly © 2004.
Ver mais sobre a meditação Zen na Internet (em inglês): http://www.do-not-zzz.com/
fonte: http://art.csuci.edu/zensurfing/zen.html

O que é Zen?


Historicamente, o Budismo originou-se com os ensinamentos de Siddhartha. Por volta de 500 A.C. Ele era um príncipe na região que agora é o Nepal Índia. Aos 29 anos de idade, profundamente incomodado pelo sofrimento que viu em sua volta, renunciou a sua vida privilegiada e se juntou aos ascéticos para buscar a compreensão. Tornou-se conhecido como o Buddha (que significa “que está despertando”). Em resumo, compreendeu que o sofrimento existe, é causado pela avidez, pode ser extinguido e o caminho para o fim do sofrimento (nirvana) é o caminho iluminado. O Zen começa no sul da China (470-475 AC) com um monge buddhista da Ásia Central chamado Bodhidharma. Este monje interessou-se pelo estudo da Mente, tanto sua natureza absoluta, quanto sua natureza evoluída (o que a mente realmente é e o que a mente pode se tornar). O que é o Zen? Esta pergunta basicamente indaga: “Qual é a natureza fundamental da Mente?” Esta pergunta parece de várias maneiras na lituratura Zen. “O som de uma mão aplaudindo.” A pergunta penetra a essência da questão e só pode ser respondida através de um lampejo de intuição na qual a da Mente é percebida como a base da existência. Paradoxalmente, o Zen é o cultivo do não-cultivo, reconhecendo que precisamos somente remover a ilusão da não-iluminação para nos tornamos iluminados. Um dos pontos centrais do Zen é a compreensão intuitiva. Quando chegamos a compreender a natureza fundamental da Mente, o Zen se torna super-lógico. Pelo outro lado, quando tentamos examinar a natureza da Mente através das emoções, dor-egoíca, imagens mentais e idéias discursivas baseadas nas percepções sensoriais, o Zen parece bobagem. Uma vez que tudo surge da Mente, a Mente não pode ser apreendida por meio de suas criações, porque estas não são tão perfeitas quanto a Mente própria. Pelo outro lado, unindo-se diretamente com a Mente, tudo, exatamente do jeito que é, passa a fazer sentido perfeito na medida que que surge da Mente. Assim, todas as coisas revelam a função pura da Mente Buddha.

Surf e Meditação

Surfar significa remar para a arrebentação, frequentemente ao amanhecer, muitas vezes sozinho, e ficar lá sentado na prancha esperando as ondas. Você olha para o horizonte – e espera... Minutos passam enquanto que peixes, focas, golfinhos e tubarões nadem em baixo das suas pernas. Você inspira, você expira.
Não é surpreendente que haja uma conexão entre o surf e a meditação. Com exceção daqueles dias excepcionais quando estão rolando ALTAS ONDAS, você não tem nada para fazer exceto ficar lá, flutuando no oceano, num estado de relaxamento atento.
Quando comecei a praticar a meditação em 1968, um dos primeiros rituais que eu desenvolvi foi o de ir até a praia antes do nascer do sol e meditar durante 20 minutos, e então entrar na água com a chegada dos primeiros raios do sol para pegar algumas ondas antes de ir até a Universidade para as aulas.
Bem, a partir de 2006, sou novamente um surfista novato, depois de não subir numa prancha durante 20 anos. Tenho ficado continuamente dentro do oceano, nadando longas distâncias e fazendo “bodysurfe”, mas não surfe de prancha. Uau, é DIFÍCIL. Somente agora estou começando a lembrar alguns dos movimentos.

Lorin Roche, Ph.D.
uma abordagem da meditação bem viva e affirmativa / a zesty life-affirming approach to meditation
http://www.lorinroche.com/page119/page126/page126.html