O NASCIMENTO DO ZENDÔ SURF
Convidada por amigos, quase numa brincadeira, a Monja Isshin foi "surfar" pela primeira vez aos 59 anos de idade. Uns meses depois, sem qualquer pretensão, escreveu um artigo para o seu
blog, recontando a experiência e as suas reflexões. Alguns surfistas leram o artigo da Monja e convidaram ela para visitar Wavetoon. Assim, renasceu uma afinidade muita antiga – o Zen e o Surfe. Para investigar, compreender e cultivar esta afinidade, iniciamos o projeto "Zendô Surfe".

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Como passar o resto da vida entubando.

por Gerry Lopez

...Meditar e surfar tem muitas semelhanças nas técnicas, assim como nos resultados. Os sentidos são como tiranos, bombardeando descontroladamente sua mente com novidades até ela parecer um mar revolto. O objetivo da meditação é o de acalmar as ondas de sua mente e controlar seus pensamentos, de forma que você possa aumentar seu poder de concentração. Surfar é uma maneira de focalizar a atenção num nível onde a mente se torna silenciosa e quieta. Durante aqueles momentos de intensa concentração, todas as preocupações ou problemas são esquecidos temporariamente, e somos preenchidos de satisfação e paz de espírito. Esse é exatamente o mesmo resultado que se espera obter pela meditação. A diferença entre concentração e meditação é apenas uma questão de grau. Sua mente está geralmente voltada para pensamentos vagos. Durante a concentração ela ainda se desvia, mas na meditação a mente está por conta própria, mantém-se em uma única frequencia de pensamento. Desenvolver a habilidade de parar as ondas fluidas do pensamento permite-nos um vislumbre do nosso verdadeiro Ser, o real que está sempre feliz, satisfeito e consegue bastante ondas. Os Yogis chamam isso de autoconscientização e nos dizem que está ao alcance de qualquer um que seja efetivamente interessado e dedicado. No Raja Yoga, a sexta e sétima etapa para a iluminação é a concentração e a meditação. A oitava é chamada de Samadhi ou superconscientização, isto é um estado além do tempo e espaço, quando a mente e o corpo são transcendidos e existe total união. Nesse estado, o meditante e o objeto de concentração se tornam uma única coisa. Shaun Tomson certa vez disse em uma entrevista, durante seus dias de glória em Off-the-wall e Backdoor Pipeline, que havia momentos quando ele efetivamente sentia-se como se estivesse controlando a onda.
A princípio pensei que fosse a mais egocêntrica das declarações jamais feitas por um surfista. Num segundo momento contudo, acreditei que Shaun entrou nesse estado de samadhi ou de superconscientização e estava em total harmonia com a onda, que sabia o que iria acontecer antes do tempo real. Depois, de volta a praia, ele podia apenas usar o seu ego para explicar os momentos de total não-ego. É o ego que gera a sensação de separação ou dualidade entre o ser individual e o Absoluto. A realidade é imutável e estática, o mundo que vemos é apenas ilusão porque olhamos para ele sem estarmos iluminados. Portanto, nós apenas vemos o que queremos e não o que realmente está lá para ser visto. Mas, voltando a terra, aqui precisa-se acreditar que estamos nas - ou perto das - sexta e sétima etapas do Raja Yoga, sempre que vamos surfar. Ás vezes, até entramos em Samadhi, mesmo que apenas por breves instantes. Se um dia puxadode surf revelar-se mais cansativo do que qualquer um de nós quisesse ou pudesse imaginar, então por quê nos sentimos tão satisfeitos e gratificados depois? De onde vem a energia para continuar a remar de volta para mais uma onda, após uma longa sessão? Por quê você nunca sente como se já houvesse feito tudo o que podia fazer surfando, independentemente do nível da suahabilidade? Não ficamos com a impressão de que sempre há mais espaço para melhorar? Por quê todas as lições que aprendemos nas ondas, funcionam tão bem - senão melhor - quando estamos fora d'água? Chamo a isso de Realização do Surf e é melhor você acreditar que este é o caminho para uma vida mais longa e melhor. Continue a remar que o resto é fácil...


Gerry Lopez
segmento de texto extraído da matéria "Como continuar entubando pelo resto da vida". Revista Alma Surf número 05/ano 1.


da esquerda para a direita: Gerry Lopez, Dick Brewer e Reno Abelira, praticando zazen em algum lugar do North Shore.

3 comentários:

  1. Fui a palestra da Monja Isshin no Yazigi e resolvi buscar mais da vida e da filosofia do Gerry Lopez. As lições que ele passa são demais, pois sentimos isto n'água, mas não conseguimos muitas vezes contextualizar os sentimentos.

    Sou praticante de Yoga e surfista, e já havia constatado muita coisa parecida das práticas yogues com as sessões de surfe. Posições, respirações, estados de consciência. Parabéns pelo grupo, pretendo conhecer em breve.

    abraços,
    Vanderlei Dutra

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  2. Sou professora de yoga, e eu sempre digo que se morasse perto do mar seria surfista...
    Meu profe, que eu admiro tanto é surfista também. Acho que existe uma grande similaridade de busca de paz, uma maneira única de praticar alguns dos passos de Patanjali, quando se encara as práticas esportivas sem muita competição, Lindo esse blog. Parabéns!!!!!

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  3. Sou Design de moda e tenho uma Marca de vestuário com inspiração no surf,sua filosofia,sua influencia,adoro o mar e nele me inspiro para criar,me interessei pelo surf aos 11anos mais não pratico ocm frequencia, gosto muito e sempre que tenho tempo procuro equilibro perto do mar:D

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